Woman standing on jetty and watching sunrise by the lake.

E se eu morrer hoje? Quantos de nós faz esta pergunta em nossa vida diária? Certamente a minoria. No ocidente esta pergunta está ligada a algo negativo, pessimista e até mesmo a uma mentalidade doentia. Por outro lado, ela é fundamental para vivermos melhor. Só sabe realmente viver, quem sabe morrer. Quem esconde de si mesmo a morte, esconde de si mesmo a vida. Está preso a pequenas coisas, se agarra no direito constituído e falho da humanidade, ao invés de viver na equanimidade do dever da infinitude do universo.

No budismo existe uma meditação específica para a morte. Confesso que ela representa um desafio grande para nós ocidentais. Mas é de uma libertação sem igual. Proponho aqui uma experiência bem rápida, porque existe uma necessidade de preparo para este tipo de meditação. Feche seus olhos e imagine que você acaba de morrer ou a pessoa que mais ama. O que vem a mente? Faça isso somente por alguns poucos segundos.
Estas sensações sem controle que surgem neste momento representam energias que precisamos equilibrar em vida. O quanto de desespero ou desconforto que temos ao realizar este exercício é proporcional a nossa distorção da realidade e ao nosso inadequado estilo de vida atual.

Sem o espelho da morte, de forma sadia e criativa, vivemos à mercê de caprichos egoístas e narcísicos. Em outra palavras, aquilo que tem valor verdadeiro em nossas vidas, será relegado a segundo plano, e o que não tem valor algum, ganhará nossa atenção e nos jogará na tempestade dos transtornos mentais, como ansiedade, depressão, sofrimentos e angústias em geral.

Como viver então? Afinal, é verdade que viver pensando em morrer é algo patológico. Isso está correto. Mas quem disse que é esta a proposta? A morte te amarra com 3 cordas diferentes. Estas 3 cordas são a raiz de nossa ignorância e representam o óculos no qual vemos a inebriante dança das ilusões do mundo.
Estas cordas são o apego, o agarramento ao si mesmo e o auto apreço. A compreensão e a consciência deste processo é o princípio básico da libertação. A partir da experimentação e observação destes princípios em nós mesmos, nos aproximamos da vida como ela é, e a vida como ela é, em sua essência, não exclui a morte, porque reconhece primariamente as 4 marcas da existência.

Como já abordado e explicado em nossos artigos anteriores, as 4 marcas da existência são: a impermanência (tudo muda), a interdependência (tudo está condicionado), a inexistência inerente (ausência de substância) e a vacuidade (plasticidade da mente). Estão aqui, nestes 2 parágrafos, matematicamente falando, o necessário e o suficiente para viver uma vida plena, liberta e pacífica.

Por outro lado, podemos fazer um exercício menos perturbador, apesar de que a meditação da morte, devidamente realizada, não é nada perturbador. Que exercício seria este? Um seria mental e outro real.
O mental seria imaginarmos saindo vagarosamente através de nossa consciência desperta de nossa cidade, estado, país e planeta. De olhos fechados, imaginarmos um distanciamento vagaroso de nosso planeta e sistema solar. Indo adiante, saindo de nossa galáxia. Vagarosamente. Fazer isso em silêncio profundo, traz uma paz enorme. E o mais positivo, limpa com um sopro os pequenos problemas de nossas vidas. Percebemos o quanto sem sentido é nos aborrecermos com pequenas coisas. E ainda percebemos a grandeza do universo, da vida, do agora, e com equanimidade, compaixão e amor retornamos para o nosso dia a dia mais plenos e resoluto.

Estes processos devem ser feitos com seriedade. Realizá-los e começar a chorar, e sair correndo pedindo desculpas a pessoas, ou solicitando seu amor é um erro. Todas os tratamentos terapêuticos baseados em drama são um erro. O drama é uma energia negativa, que deve ser podado diariamente na contemplação e na presença. Devagar e com atenção, não na descarga emocional desenfreada e sem controle.

O outro exercício possível para ganho de consciência é a viagem. Sim, arrumar as malas e viajar. Conhecer outras pessoas, outros costumes, outras culturas, outras paisagens, outras vidas. Este processo também é libertador. O mundo é imenso, infinito, insoldável e belíssimo. Ele se torna pequeno, finito, sondável, e feio quando visto unicamente pela nossa pequena mente.
O contato com outras experiências traz uma libertação sem igual. Muitos sentem um frio na barriga ao viajar, e por isso desistem com medo. Estão presos em seu próprio mundo, e sabem, que terão que derrubá-lo. Mas a maioria reconhece no viajar uma fonte inesgotável de satisfação, abertura mental e prazer.
Viajar nos conecta as nossas origens, na época em que os seres humanos eram coletores e caçadores e viviam em viagens. Nos conecta com o novo, com aquilo que transforma, com novas energias. Existe sim o perigo, ele sempre espreita nos cantos e nos detalhes. Mas sem ele, como poderíamos vencer a nós mesmos e justificar o motivo de justamente estarmos aqui e nos tornarmos o herói mais importante? De fato o único herói possível: o herói de nós mesmos.

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Nos vemos em breve!

Anos-luz, Viagem e a Morte

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